"A chuva encharcou minhas botas e meu coração bateu forte no peito quando um raio partiu uma árvore a 50 metros de mim. Não houve avisos, exceto pelas nuvens negras que cobriam o céu.
Antes que eu pudesse buscar abrigo, um forte raio de luz me atravessou e me jogou a uma distância de mais de 9 metros, sobre um piso de concreto.
Sentia cada centímetro de mim ardendo, ardendo com eletricidade, me matando. Então, tudo ficou escuro.
Eu tinha 24 anos, era soldado do Exército em Fort Benning, na Geórgia. Naquela noite, eu estava inspecionando munições em um depósito com um colega. Ele tentou me reanimar, mas foram os paramédicos que me ressuscitaram depois que o raio - que subiu pelos meus pés, atravessou meu corpo e saiu pela minha boca e cabeça - fez meu coração parar de bater por um curto período.
Quando cheguei ao hospital, os médicos ficaram surpresos com o fato de eu ter sobrevivido. Eu estava semiconsciente, me perguntando se alguém havia disparado ou atirado um explosivo contra mim.
Não podia falar porque minha mandíbula estava quebrada. Não conseguia entender o que me diziam por causa de uma lesão cerebral grave. Não conseguia andar porque os vasos sanguíneos dos meus pés estavam completamente destruídos.
Estava feliz por estar viva, mas minha vida havia mudado para sempre.
Fiz 12 cirurgias para reconstruir minha mandíbula e os dedos dos meus pés foram amputados.
Lentamente, reaprendi a ler, escrever, falar e caminhar - no começo usava muletas e depois, quando fiquei mais forte, passei a usar os músculos do abdômen para manter o equilíbrio.
Me sentia impotente, mas, a cada sinal de recuperação - como falar o alfabeto e completar operações matemáticas básicas - renascia a esperança.
Além de enfrentar a reabilitação física, fui diagnosticada com um transtorno de estresse pós-traumático e tive que me tratar com um psicólogo.
Beth Peterson foi atingida por dois raios e sobreviveu |
Exatamente um ano depois do dia em que fui atingida por um raio, estava em casa, porque ainda não podia trabalhar, observando a chegada de uma tempestade. Meu psicólogo havia me encorajado a enfrentar meus medos e a não me esconder em casa durante tempestades - por isso, tomei coragem e fui até a varanda.
De repente, senti tudo de novo. A mesma luz, o mesmo ardor agonizante. Fui atirada para dentro de casa, onde meu namorado, David, correu para o meu lado. Antes de perder a consciência, estava convencida de que ia morrer.
A cada ano, mais de 4 mil mortes no mundo são causadas por raios e, aparentemente, as chances de ser atingindo por um raio nos Estados Unidos é uma em 700 mil (no Reino Unido, é de 1 em 10 milhões e no Brasil, de 1 em 1,5 milhão).
Mas não tenho ideia de quais são as chances de uma pessoa ser atingida por dois raios, na mesma data, com um ano de diferença. Nem deve haver essa estatística.
O segundo raio não me feriu fisicamente tanto quanto o primeiro. Como ainda estava em recuperação, os médicos não puderam estimar com precisão a extensão dos danos desse segundo golpe.
Meus dias passaram a ser um fluxo constante de visitas a hospitais e clínicas de reabilitação. Vivia com medo, obcecada por nuvens, chuvas e relâmpagos, examinando o céu constantemente.
Quatro meses depois do segundo raio, já havia recuperado força suficiente para voltar a caminhar usando uma bengala. David, meu namorado, e eu decidimos nos casar. No ano seguinte, tivemos um filho, Casey.
A cada cirurgia, a cada sessão de reabilitação, eles eram a fonte de alegria que me ajudou a superar tudo.
Já se passaram 25 anos e ainda sinto dores. Pode parecer estranho, mas quem já passou por uma amputação vai entender: a dor realmente não vai embora, mas você aprende a conviver com ela.
Ao invés de me concentrar em coisas ruins, faço palestras para outros pacientes com transtorno de estresse pós-traumático e dor crônica.
Em 2013, escrevi um livro sobre como usar a dor para ser mais forte. Os raios podem ter mudado minha vida de uma forma irremediável, mas também me deram um novo propósito: ajudar aos outros.".
Fonte: G1
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